sexta-feira, agosto 14, 2009

Desculpa não ter dito nada antes e não dizer nada agora, é que faz muito tempo que não digo nada a ninguém, Teatro Oficina, Guimarães, Portugal, Set06





Photo Credits: Guilherme Garrido.

Gestos cortados que são tentativas de comunicação. Parâmetros, parâmetros para tudo...
Ocupar-se, ocupar-se… Uma urgência de explosão. Diálogos passageiros. Silêncios vários.
Zonas de desconforto. Ar de luto. Desculpa não ter dito nada antes… Danças de isolamento.
Todas as vontades para o mesmo fim. Processos de adaptação dolorosamente lentos. Choques
que são relações de poder, amor e ajuda. Elevação da solidão. Actos viciantes de
esquecimento. Beatas de cigarros, cinzas, copos vazios, copos partidos, olhares no chão,
conversas caladas. Sonhos, vontades, tudo…congelado! Esquecer como numa distração. Existir
para os outros, estar presentes. Esperamos sempre mais um pouco por uma demonstração de
amor. Desejamos possibilidades impossíveis. Temos sede, temos esperança. Há silêncios que
dizem muito. Nada. Desculpa não dizer nada agora. As presenças são esvaziadas em turbilhão
e transformadas em ausências, vultos, sombras. Nada. Silêncio. O silêncio é uma liberdade ou
um incómodo? Acabar em si, consigo próprio. Poder acreditar que alguma coisa vai mudar.
Esperar, desesperar. Surpreender-se com as suas metamorfoses e com as dos outros no
espaço circundante… Suster a respiração, controlar-se, insultar-se, fechar-se nos seus próprios
segredos. Ter medo que não chegue ninguém. Ninguém! Perder energia, consumir-se em
expectativas, surpreender-se com a novidade, adoptá-la, adaptar-se a ela, desiludir-se com ela
ou aceitá-la. A sede provoca perdas constantes do nível normal da realidade. Que sede é esta
que nos inquieta? Conhecer-se porque se assiste a si próprio, à sua condição. A sua condição
além de qualquer representação. A sua condição em confronto com as ausências e fantasmas,
os monstros do presente e os silêncios de quem não diz nada a ninguém há muito
tempo…Interessam-me aquelas situações em que as pessoas perdem o controlo total sobre a
situação na qual estão metidas, e onde são obrigadas a relaxar ou a desistir e a
impreterivelmente confrontar-se com o abismo de um antes e de um depois. Como numa
catástrofe, num estado de exaustão física ou mental, de desespero emocional ou excitação, ou
de actividade massiva. Todas as forças incontroláveis dentro ou fora delas, às quais tem que
responder imediatamente e de uma forma institiva de modo a encontrarem um novo equilíbrio e
a sobreviverem. Nessas situações carregadas de drama às vezes num curto e repentino flash
tudo se liga. Também acho que estas situações extremas podem elucidar algo sobre a forma
como nos comportamos em situações normais, e sobre o quanto nos relacionamos e
dependemos da nossa experiência e escolhas em estímulos exteriores e situações sociais.
António Pedro Lopes

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