se estivermos a morrer de calor daqui a cinco meses
se continuarmos a ser enforcados
se as estórias da história continuarem a repetir-se
se me cair uma lágrima para crescer uma flor no olho
se sair uma cabeça da minha boca e falar por mim
se a minha voz partir a corda da guitarra
se a pornografia for nobre e o paraíso estiver sempre esgotado
se conseguirmos resistir a espera sem comprimidos para a ansiedade
se eu falhar na incessante procura por sensações extraordinárias
se eu nunca me livrar dos segredos e das mentiras
se eu nunca for totalmente de alguém
se tivermos uma hipótese
se a dança saír numa retenção de ar
se o vírus tomar a posse no crime da carne
se a idade se tornar para sempre virtual
se deixarmos de ignorar a adrenalina da violência dos olhares errantes
se cada palavra se tornar um tesouro precioso
se não for uma devastação dizer olá como é que te chamas
se começarmos a cumprimentar todas as pessoas com quem já trocamos uma palavra
se a preguiça não me chupar o sangue e alimentar a inércia
se o teatro das relações trouxer de uma vez por todas deus ao nosso andar
se o mundo não se mover a tristeza
se eu queimar esta colecção de cromos de paradoxos
se pianos trágicos moverem montanhas e subissem céus em crescendos crepusculares
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