pretty good year
Um ano de perdas, silêncios e mudanças. Adormeci por detrás de uma cortina ou por debaixo dela, não sei. Segui o vento das vozes e calei ao ser esmagado por demasiados gritos mudos. Perdi-me... Sonhei com coisas melhores e fui intercalando isso com a preguiça da bureocracia, o joelho do prazo, a tristeza do mais ou menos, a ruptura da morte, o luto da língua, a falência do banco e por último, com o amor. De novo, o amor. Apaixonado ressuscito electrificado. A cabeça esquecida caíu no décimo degrau, o coração palpitou e agora lembro-me de tudo num suspiro de quem olha para trás e vê que o tempo passou.
Mas, continuo a acreditar que o tempo dos petróleos é espanhol e francês, controlado por um galo português fugido da capoeira para reinar a montanha.
Essas guerras atrasadas, tantos sonhos afogados, obrigaram-me a fazer o download de uma cabeça nova e reciclar os meus membros, as minhas roupas, as minhas políticas. Hoje, esboço um sorriso porque sou chato e persisto. Quero também resistir para existir e reformular utopias, sabendo pontuá-las com espaços e respirações. Prossigo agarrado a nada com tudo o que tenho. Não tenho casa, nem sofá, nem televisão, nem endereço fixo. Tenho mãe, irmão, a mim próprio e alguns amigos que se lembram.
Sou chato, outra vez, chato, trez vezes chato. Não cultivo solidões, só danças, esquecimentos e consciências. Apaixono-me por cabeças de fraquezas, ainda que não seja forte mas sim um triste feliz triste. O meu músculo é leve, sou tenso como uma pena amarga à procura de governo. Sou Português e não sou Português. Sou artista e não faço revista. Não canto, não danço, não actuo, não represento. Gostava de saír fora para observar estes pequenos terramotos que se apoderam de mim. Sonho que os outros sejam respeito e liberdade. Procuro que a paz passe da forma de um sonho para a forma da realidade. Estou vivo mas não tenho direitos, parece que é como se estivesse morto. A morte não ganha corridas mas pode ser comprada no supermercado.
Espero por ti no topo da montanha. Aí, mais perto do céu mais perto de casa. Juntos espelhamo-nos no mar e encontramo-nos no reflexo das nossas lágrimas. Sentirei sempre saudades. Estarei a cada momento um pouco mais velho e calmo. Aprenderei com os dias, com a gente e com as vontades. Plantarei várias hortas e semearei intenções de verdade. O amor bem haja.Afinal sou só um erróneo conjunto a querer que me colem as partes...
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